O pirata que viveu e morreu em Curitiba

Curitiba já viveu momentos de grande perturbação, quando surgiu a história de um pirata, que havia transportado, para o planalto, o fruto de suas aventuras marítimas, enterrando, em zona desconhecida, imensos tesouros de ouro e prata.
Em algum lugar desta risonha cidade, o fabuloso tesouro estaria enterrado, desafiando a argúcia, a tenacidade e o destemor das nossos pesquisadores.
Os anos decorreram e ficou a lenda.
Se já não era o assunto obrigatório de todas as conversas, volta e meia, voltava-se a falar no aventureiro e na sua extraordinária riqueza.
Novamente, se movimentaram energia em busca do tesouro e, em face dos insucessos, o assunto caía no esquecimento.
Por volta de 1916, foram descobertas umas galerias subterrâneas, nos terrenos da chácara do Dr. João Gutierrez, nas Mercês.
Essa descoberta assanhou, outra vez, os pesquisadores e já, aí, com maiores elementos, pois, diziam, que nas vizinhanças daquela propriedade, vivera um tipo esquisito, misterioso, mesmo, conhecido pela denominação, muito simples, de O velho da mata – o qual, de tempos a tempos, desaparecia e era visto no litoral, nas proximidades de Guaratuba...
O Velho da Mata deveria ter sido o mesmo pirata Vitoriamario – aventureiro perigoso, que procedia da Ilha da Trindade!
E a imaginação popular procurava reconstruir a cena, por inteiro: O velho da mata – o pirata Vitoriamario - era uma única pessoa.
Ele ia a Guaratuba transportar o tesouro, que ali deixara, fruto de suas tenebrosas piratarias.
O tesouro estivera, antes, na Ilha da Trindade. Aí se concentravam, então, numerosos outros piratas.
Vitoriamario – receoso – decidira abandonar a ilha, no seu veleiro de trágicas aventuras, indo parar na região guaratubana.
Encostado demais à terra, para descarregar a sua presa, a agitação do mar despedaçou a sua frágil embarcação, na praia das Caieiras, ainda, hoje se vê, quando baixa a maré, um casco de navio, todo carcomido.
Muita coisa, entretanto, já estava em terra firme e Vitoriamario tratou de esconder o seu tesouro, sempre perseguido pela idéia de um esbulho...
Com a aparição de estranhos, a sombra que tirava a tranqüilidade do pirata, fê-lo buscar lugares bem distantes da praia.
E a imaginação do povo prossegue, na reconstituição: - O pirata Vitoriamario organizou, então, sua tropa de bestas e, em pesados malotes foi fazendo o transporte para o planalto...
Tais cenas teriam se verificado, em meados do século passado, mas já em uma época pertencente a este século, foi encontrado um roteiro no subterrâneo do velho Colégio dos Jesuítas, de Paranaguá, roteiro – diz a voz popular – feito pelo próprio Pirata Vitoriamario – e, apesar de muito velho, quase ilegível, ainda, permitia que se visse Curitiba – como sítio indicado – para a presença do gigantesco tesouro.
Contam pessoas que viram essa nova época, ter havido um grande reboliço, em Curitiba.
Os mais havidos organizaram uma sociedade, para explorar o tesouro, composto de pedras preciosas, barras de ouro e prata, copiosa coleção de moedas, etc.
A sociedade instalou uma rede de iluminação elétrica, nos subterrâneos das Mercês, ponto que, tudo indicava, devia ser, realmente, o escolhido pelo Pirata, em vista da lenda do velho da mata.
Mas a sociedade, depois de dispensar grandes somas, abandonou as pesquisas. Finalmente, ainda, a voz do povo fala: os trabalhos chegaram a um tal ponto de possibilidades, que o governo do estado interviu, com sua polícia, buscando reivindicar seus direitos, ao fabuloso tesouro...
Talvez, Vitoriamario - que era inglês, fosse o lugar-tenente, do famoso pirata executado em Londres.